sábado, 6 de agosto de 2011

A Morte






Autor: Carlos Geovanni
Data: 28/07/2011

Um adulto trajava roupas de paciente em um hospital. Tinha a respiração difícil e necessitava da ajuda de aparelhos. Uma menina estava ao seu lado, chorando de forma inconsolável.

- Filha, por favor, pare.

- Não consigo!

Um homem com sobretudo preto se aproxima de maneira cautelosa, observando a cena disposta.

- Quem é você? - Pergunta o pai.

- Sabes muito bem que eu sou.

- Então está na hora?

- Temo que sim.

O pai olha a filha com um semblante pesaroso, como se quisesse absorver a dor sentida por ela.

- Meu anjo, por favor, viva bem. Por mim.

- Está bem, papai. – Respondeu, carregando pesar em cada sílaba pronunciada.

O pai fecha os olhos e, em ato contínuo, algo amorfo parece sair de seu corpo.

- Você pode me dizer se ela estará bem? Se terá um bom futuro?

- Ela vai. – Completou, de maneira tranqüilizadora.

O pai sorri e desaparece em seguida. Logo após, o sujeito retorna ao hospital e observa que a filha de sua última coleta permanece em prantos.

- Droga. – Revoltou-se. - Mais uma vez um pai abandona a filha e, mais uma vez, fico escutando o lamento das crianças, doces e inocentes como só elas podem ser. Porquê elas têm que sofrer tanto? – Indagava-se a Morte, em lamúria.

Um homem de camisa social, calça branca e cabelo loiro, aparece no quarto.

- Quem é você? - Pergunta a Morte.

- Eu sou Ele. - Respondeu.

Envolto em fúria e sem poder conter-se, a Morte soca o homem com bastante violência.

- Você é quem deveria protegê-los!

- E Eu os protejo.

- COMO?!

- Dou-lhes a liberdade.

- Então olhe para ela. – Apontou para a menina, ainda em revolta. - Como um Deus tão “clemente” pode deixar uma garotinha sofrer tanto?? - As lágrimas continuavam a derramar sobre a face do arauto macabro. - Por quê tantos outros também acabam com esta mesma dor e desilusão??

- Este é o preço dessa mesma liberdade.

- Peço, ó Onipresente, uma resposta menos vaga!

- Apenas assim eles poderão começar a compreender aquilo que forma a felicidade que buscam.

- Felicidade?

- Sim. – Continuava Deus, sem mudar o semblante com a agressividade de seu servo.

- Miserável. Eu vejo a dor nos olhos deles e não a culpa não é atribuída à Você, sempre misericordioso, mas à mim. Não minto que alguns me dão prazer em cumprir a tarefa, mas no geral, aqueles que ficam são os que me atormentam. – Batendo no próprio peito, demonstrando total exaustão com sua atividade nefasta, ele completa pausadamente. - Não consigo fazer este serviço.

- Se quiseres desistir, posso conseguir outra pessoa e você não terás recordação de tudo que passaste. Por mais que penses pouco de mim, odeio ver um filho sofrer desta forma. No entanto, tu também não podes compreender meus critérios para a escolha de quem deva cumprir esta tarefa.

- Então você poderá colocar no meu lugar qualquer pessoa. Alguém sem meu apreço pelos homens, sem minha compreensão ou meu esmero. – Completou a Morte, que iniciou novamente um processo de resignação.

- Seu amor é o que conforta a passagem.

- Não entendo. Afinal, qual a razão disso tudo?

- “Razão” é apenas uma palavra. Assim é. Assim sempre será.





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